domingo, 27 de janeiro de 2013

A menina que suava em cores

Tínhamos escrito um bem documentado artigo sobre a menina Vera Lúcia, a tal mineirinha que sua colorido. 0 trabalho era muito bem documentado e de grande importância para o estudo do fenômeno que ora preocupa a imprensa carioca e deixa um pouco off side a ciência de um modo geral. Isto porque, sendo um artigo de Stanislaw, já era obra de valor, valor este que aumentava, ao levar-se em conta que somos um dos que mais fizeram mulher suar pela aí.

É lógico que suor colorido para nós também é bossa nova, ainda que não sejamos supersticiosos a ponto de achar que Vera Lúcia é milagrosa. Isto não.

Que nos recordemos assim, a grosso modo, só Primo Altamirando é que, certa vez, começou a suar colorido. Aliás, não era bem colorido. Ele começou a suar numa cor só: o preto — mas Tia Zulmira, com um pouco de água e um pedaço de sabão, acabou com o milagre.


Nosso artigo sobre o suor colorido de Vera Lúcia chamava a atenção dos leitores para a inveja que vinha causando em alguns coleguinhas jornalistas, como o Timbaúba — por exemplo — do "Diário Carioca", que escreveu uma porção de bobagens sobre o que chamou de "literatura química", dizendo que Vera Lúcia suava por causa da reação de certos ácidos etc. etc. E isto é pura inveja do coleguinha porque não existe ninguém mais ácido do que o Dr. José Maria Alkmim e, que saibamos, nunca o ex-Ministro da Fazenda suou em cores.

Dizíamos também que Vera Lúcia poderia ajudar na recuperação do cruzeiro, valorizando a moeda no exterior, ao ser exportada com seu suor em tecnicolor, para Hollywood, onde faria um Metro-musical daqueles bem chatos, com Debbie Reynolds, um irmão do Mário Lanza e a orquestra do Ray Coniff.

Mas nosso artigo não foi publicado, e mesmo assim surgiram logo notícias pessimistas, atribuindo aos pais de Vera Lúcia uma chantagem. Veio um médico para as manchetes dizendo que eles é que davam determinada droga pra moça beber e suar azul de manhã, verde ao entardecer e roxo de noite, com variações coloridas nas horas suplementares, insinuando que os pais de Vera Lúcia são cafiolas de suor. Se assim é, já não está mais aqui quem falou. Mesmo sendo um cidadão useiro e vezeiro em fazer mulher suar, Stanislaw se abstém de opinar.

Felizmente nosso artigo não foi publicado, pois ia suscitar polêmicas. Se o suor de Vera Lúcia é pré-fabricado, já não existe mais a mística em torno de sua transpiração.

E é pena, porque esta seria a segunda Vera Lúcia a fazer milagre, num curto espaço de tempo. A outra é a Vera Lúcia da Rádio Nacional, que conseguiu se eleger "Melhor Cantora de 1959", no suado concurso da "Revista do Rádio".

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

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