sexta-feira, 1 de novembro de 2013

No tempo da maxambomba


A maxambomba passa correndo passa barulhenta pelas ruas mornas da cidade antiga:

Chá com pão
Chá com pão
Bolacha não...

Vai num doido apito, num apito prolongado e agudíssimo. Sacoleja nos trilhos. Transpõe a ponte:

Tem... lem... tem... tem...
Tem... lem... tem... tem...
Frade da Penha não deve a ninguém...

E corre para os arrabaldes. Monteiro... Caxangá... Arraial... Muito cheiro de manga e de sapotis maduros. Muitas moças de tranças pelos portões para ver quem passa ou para receber quem vem... Os meninos arteiros trepam nos muros e empinam papagaios. Ou chupam pitombas e atiram os caroços no maquinista. Levam pela estrada um piano. Os oito homens caminham de passos certos e cantando

Zomba minha negra.
Zomba meu sinhô.

A maxambomba passa no "mato". E sobe a rampa da Mangabeira. Os velhos jogam gamão nos terraços. A Dindinha embala o neto na cadeira de balanço:

A obrigação de quem cria
É o menino acalentar...

A negra grita: "Tapioca quente!". E Yayá só quer andar é no trem. Ela já manga do palanquim. Dança quadrilha, faz balancê, e sabe uns versos que dizem assim:

Moça nenhuma
Me faça tromba,
Que eu só embarco
Na maxambomba.

A fumaça vai ficando pelo caminho, cheirando a carvão. A "mãe-preta" espirra. "T'esconjuro!". As meninas fazem debaixo do arvoredo, de fitas nas cinturas e mãos dadas:

Diga, senhora viúva,
Você com quem quer casar?
É com o filho do conde?
Ou com o senhor general?

A maxambomba toma carreira:

Vou com pressa...
Vou com pressa...

O povo todo fica no Poço. Painel, bandeiras, músicas, foguetes. O sino toca na capelinha. É a novena, a das "solteiras". Vestidos novos, seda, espartilhos e anquinhas. Rapaziada de redingotes. Vendem na porta "medidas-bentas". Canoas trazem gente da outra banda do rio. "Papai eu quero ir no tivoli!". Sobrados abertos com bicos de gás. "Bonito mesmo!". Dançam lá dentro quadrilha. As damas de saias redondas, fazendo balancês com os cavalheiros de sobrecasacas debruadas. Sorrindo, cortejando-se, derretendo-se... Para um crítico escrever depois:

Quadrilhas e balancês
São favoráveis ensejos
Se não de furtivos beijos
De abraços e apertões
De introduzir petições.

Conversas: "Eu vou tomar banhos salgados em Olinda". - "Também vou. Já comprei minha roupa de baeta". - Num recanto o fandango com o navio e noutro o pastoril de Xandunzinha. "Viva o azul!". E as pastoras entoam:

Ò gentileza, tão formosa e bela,
Eu não sou lírio, nem também jasmim,
Das pastorinhas sou a mais querida
Sou a Diana deste pastoril...

E a maxambomba volta cansada. Puxando, puxando, com sono...

Chá... com... pão...
Chá... com... pão...
Bo... la... cha... não...

O caminho está escuro. Os lampiões estão apagados. Nos sítios o povo dorme. Ainda muito cheiro de mangas e de sapotis. As estrelas piscam os olhos pedindo a madrugada para fechar de todo. Um violão volta da festa tocando. E um homem cantando alto:

Acorda, Adalgiza,
Que a noite desliza...

Lá se vai a boleira com seu xale de franjas e o tabuleiro vazio. Nem um pastel de nata, nem um cocorote, nem um mata-fome de cavalinho... Amanheceu. O corneta do quartel já tocou alvorada e os soldados fazem exercícios. De guritões e calças-encarnadas. Rufam tambores:

Ratos com coco,
Lagartixas com feijão.
No beco do marisco
Tem arroz com camarão...

A maxambomba não pode mais. Prega na ponte. Faz força. Pára.

Chó... chó... chó... chó...
chó... chó... chó... chó...

O povo salta para empurrar.


"No Tempo da Maxambomba" - Crônica de Mário Sette - Revista da Semana, 02/03/1940.
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domingo, 27 de outubro de 2013

Ambrósio Paré, o Pai da Cirurgia

Naquela época, em que os médicos só possuíam, revestida de frases gregas e latinas, uma ignorância extrema, Ambrósio Paré oferece quase o aspecto de um revolucionário. Os doutores em medicina desdenhavam os cirurgiões, que eram, para eles, simples “sangradores” e barbeiros, e eis que, num cúmulo de audácia, Ambrósio Paré, de humilde origem, servindo sob as ordens de um desses barbeiros, arvorava-se a entendido na matéria, e sem saber escrever em latim!

Por ter abandonado velhas rotinas e graças a uma longa experiência de sessenta anos, Paré fez importantes e decisivas descobertas e, ao passo que seus ferrenhos detratores jazem hoje esquecidos, sepultados nos seus alfarrábios latinos, o “pai da cirurgia” é nome atual, sempre citado e sempre respeitado.

Foi Ambrósio Paré quem ousou praticar a primeira desarticulação do cotovelo, e os cirurgiões modernos lhe devem a prática da ligadura das artérias, feita por ele, pela primeira vez, em pleno campo de batalha. Não podendo usar o cautério, então em voga, talvez porque lhe faltassem no momento meios materiais, Ambrósio Paré teve a ideia de ligar as artérias. E o êxito foi absoluto.

Ainda hoje é usado esse processo de estancamento de hemorragias. Ambrósio foi lutador. Para receber o título de doutor, teve de empenhar-se em tenaz campanha. Na Idade de 44 anos, após vinte anos de prática, defendeu tese. Nos relatórios da Faculdade, em Paris, lê-se a indignação que causou o seu latim, e consta que “somente em consideração ao rei”, ele foi aceito. Foi-lhe, todavia, imposta uma condição: tinha que estudar o latim, tinha que se aperfeiçoar.

Naquela época, médico que não falasse, receitasse e escrevesse em latim, não era médico...

A posteridade ignora se Paré estudou, mesmo, o idioma de Ovídio, Cícero e Virgílio. Sabe, contudo, que seu nome é respeitado como um símbolo e acatado por todos aqueles que têm feito da cirurgia, hoje tão adiantada, sua honrosa profissão.

Ambrósio Paré foi cirurgião titular dos reis Henrique II e de seus três filhos, que se sucederam no trono da França: Francisco II, Carlos IX e Henrique III.


Fonte: Almanaque d'o Tico-Tico - 1955.
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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Benefícios da lichia

A lichia, com a sua polpa suculenta e bem doce, começa a ganhar adeptos no Brasil. E além do sabor delicioso, os benefícios são inúmeros! Ela tem boa quantidade de vitamina C, potássio, cálcio, fósforo e magnésio, importantes vitaminas e minerais para garantir o bom funcionamento do organismo. E para quem fica de olho nas calorias, outra boa notícia, porque ela é pouco calórica: cerca de 100g possuem 64 calorias.

Ela ainda contém substâncias fenólicas, recebendo destaque as antocianinas, que trazem ao organismo grande proteção antioxidante contra doenças inflamatórias, câncer e envelhecimento precoce. "A lichia é fonte de substâncias antioxidantes como as antocianinas, dentre elas a cianidina, que está sendo estudada por ajudar na perda de gordura, e os flavonoides", explica a nutricionista Gabriela Soares Maia.

O que chama a atenção é que ela tem boa quantidade de vitamina C e com apenas 6 frutinhas a recomendação diária já é atendida. É uma vitamina extremamente importante porque ajuda na defesa antioxidante do organismo, na manutenção de um bom sistema imunológico, na cicatrização de feridas e aumenta a absorção do ferro. As vitaminas do complexo B (tiamina, riboflavina e niacina) também estão presentes na fruta e garantem disposição na medida certa.

"Já em relação aos minerais, é possível destacar o potássio, que tem função essencial no sistema renal, na manutenção dos fluidos orgânicos, na contração e relaxamento dos músculos. E a lichia ainda contém cálcio e fósforo, minerais importantes para a saúde óssea. Além disso, o cálcio é importante para a contração muscular e o fósforo para a formação do DNA. Ainda contém magnésio, que faz parte de mais de 300 enzimas que realizam as mais diversas funções metabólicas. E o melhor de tudo é que a lichia é uma delícia, aproveite", aconselha Gabriela.

A nutricionista citou um estudo feito no Japão pela Universidade de Hokkaido, no qual os voluntários receberam extrato de lichia e depois de 10 semanas tiveram uma redução de 15% de gordura. Os pesquisadores deram todo o crédito a uma substância chamada de cianidina, uma antocianina (substância fenólica) que está presente na casca, dando a cor avermelhada, e em menor quantidade na polpa, mas tudo são apenas suspeitas e merecem mais estudos. "E sempre é bom lembrar que perda e manutenção de peso é a união de alimentação saudável e atividade física, mas com certeza a lichia pode fazer parte desse processo como um todo", diz ela.

Por ser rica em potássio, ela deve ser consumida com moderação por pessoas com disfunções renais, isso porque portadores de doença renal crônica têm redução na capacidade de eliminação de potássio. A nutricionista explica que, nesses casos, a falta ou o excesso podem levar a problemas cardíacos, podendo alterar o ritmo dos batimentos. "Por isso, dizer uma quantidade a ser consumida é difícil porque depende do grau da insuficiência renal, e o consumo de lichia deve ser balanceado com outros alimentos também ricos em potássio, para que dentro desse conjunto se chegue a uma quantidade ideal. Recomendo à pessoa procurar seu nutricionista ou médico", finaliza Gabriela.

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Fonte: Idmed
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