quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Caju amigo do homem

O caju, fruta brasileira que aqui já encontrou o Almirante Pedro Álvares Cabral — hoje estátua nos jardins do Russel e anteriormente descobridor do Brasil —, foi batizado (não Cabral, mas o caju) pelos índios tupis. Acreditavam os silvícolas que o referido fruto nascesse de cabeça pra baixo, impressão esta causada pelo caroço (castanha) que o caju ostenta na sua parte de baixo. Mas isso é besteira porque, pensando bem, não somente o caju, mas todo mundo nasce de cabeça pra baixo.

De como o caju se transformou em amigo do homem, principalmente do homem que bebe e, particularmente, do homem casado, é coisa que Stanislaw, grande sociólogo frugívoro (salvo seja), explica nas linhas subsequentes. Sabemos que certos entreguistas vão dizer que este estudo sobre a brasilidade do caju é bobagem, mas o que se há de fazer? Como dizia Hoffmann, "a inveja é a sombra da glória".

Mas voltemos ao saboroso fruto, cuja nódoa é de amargar e, quando pega na roupa da gente, só sai na safra seguinte, segundo nos revelou o compositor Luís Antônio, que é militar e Flamengo, sendo — portanto — duplamente supersticioso. De qualquer maneira, a nódoa deixada pelo caju mancha tanto a roupa da gente quanto — por exemplo — aquele baile do João Caetano mancha a reputação de rapaz solteiro.

Saboroso, carnudo e pródigo em caldo, o caju — em matéria de serventia — só perde para o boi, animal doméstico de grande utilidade e do qual o homem só não aproveita o suspiro, porque o resto — do chifre ao estrume — já está tudo industrializado. Da castanha do caju se aproveita o caroço para nos fazer beber mais, colocando-o picadinho e terrivelmente salgado, em pratinhos sutis sobre a mesa do bar. Também da castanha se aproveita a tradicional e laxativa cozinha baiana. Vatapá (principalmente) e outros pratos de menor prestígio levam a sua castanhazinha moída, para alegria daqueles que se perdem pela boca, sem dar vez aos intestinos. Ainda desse caroço — responsável pela mancada dos silvícolas acima citada — se faz um magnífico pirão, usado em pratos de bacano, como a galinha à normanda e o pato à Califórnia, embora nem na Normandia nem na Califórnia haja caju, o que prova a versatilidade de sua castanha.

A própria polpa da fruta ora em estudo é útil, pois famílias menos favorecidas do litoral nordestino comem-na ensopada, sempre que lhes falta a mandioca, a batata ou a cenoura, tubérculos mais apropriados para um PFR (Prato Feito Reforçado). O caju pode ser ainda servido em calda, frito, cozido ou liquefeito, sendo que, no último caso, já não é mais caju: é cajuada, mas nem por isto perde a personalidade.

Costuma-se dizer que o cachorro é o melhor amigo do homem, mas a afirmativa é um pouco precipitada. Ninguém bota caju no quintal para tomar conta da casa, mas há muitas coisas que cachorro não tem e que sobram no caju. Afinal de contas, o cachorro não tem castanha, não é saboroso e, na hora do refresco, ninguém espreme um cachorro para fazer uma suculenta cachorrada. E tem mais: dizem que quando o dono é bêbedo o cachorro é sem-vergonha, adesão que não recomenda o cão. Já o caju, ao contrário, é o melhor amigo do homem... do homem que bebe e — acima de tudo — do homem casado.

Há tempos, certo cavalheiro desta praça, cansado de ser espinafrado em casa pela distinta cônjuge, quando chegava com bafo de onça por ter tomado umas e outras nessas tendinhas pela aí, tratou de se dedicar à busca daquilo que tirasse definitivamente o cheiro de bebida da boca de um castigador de alcalinas. Começou — é claro — pelos inventos americanos, como pílulas de clorofila, chiclete, drops e outras bobagens de grande aceitação no mercado e de nenhuma eficiência como tira-bafo.

Já na iminência de desistir, esse abnegado da ciência, certa noite, antes de ir para casa caneado, passou na casa de um conhecido para entregar uma encomenda. E este, na base da gentileza, ofereceu uma cajuada. Como estivesse com sede, o coleguinha de Pasteur aceitou o refresco e, em seguida, foi pro holocausto, digo, foi pra casa. E qual não foi a sua surpresa quando, ao chegar e beijar a megera, digo, a esposa, ouviu da boca desta o elogio: "Sim senhor, assim é que eu gosto. Você hoje não está cheirando a bebida".

O pesquisador, tal como o já referido Almirante Cabral ao descobrir a gente, descobriu a fórmula do engana esposa por acaso. Submeteu o caldo de caju aos mais severos testes — que nem os americanos fazem com foguete, em Canaveral — e deu sempre certo, ao contrário dos foguetes. Chegou a bochechar com "Olho D'água", que é cachaça de persistente aroma, mastigando um caju em seguida e indo para casa, onde, num rasgo de confiança no progresso da ciência, soprava o nariz da mulher, sem que esta sequer percebesse bulhufas.

Homem reconhecido, inventou a expressão hoje universal: caju amigo.

Podíamos ainda enumerar indefinidamente outras vantagens do caju, mas vamos parar por aqui, pois ele é uma riqueza do Brasil e — depois que os contrabandistas do café foram pilhados — é bem possível que os vivaldinos, sempre dispostos a dar beliscão em fumaça, se voltem para o caju e passem a contrabandeá-lo.


Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.
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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Vila da Regata

Transat Jacques Vabre
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Transat Jacques VabreTransat Jacques VabreTransat Jacques VabreTransat Jacques VabreTransat Jacques VabreTransat Jacques Vabre
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Transat Jacques VabreTransat Jacques VabreTransat Jacques VabreTransat Jacques VabreTransat Jacques VabreTransat Jacques Vabre

Transat Jacques Vabre, um álbum no Flickr.

Algumas fotos na Vila da Regata, nesta tarde de 5a. Feira, onde ocorre a tradicional regata transatlântica "Transat Jacques Vabre".

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Transat Jacques Vabre



A tradicional regata transatlântica "Transat Jacques Vabre" já está completando 20 anos. Esse ano, o ponto de partida é a cidade francesa de Le Havre com destino à Itajaí-SC, nossa encantadora cidade papa-siri, onde devem chegar mais de 40 embarcações.

Nesta tarde ensolarada, 5a. Feira, tive a oportunidade de fotografar a chegada da embarcação "Team Platique", de tripulação franco-italiana. Abaixo as fotos da chegada, da recepção com frutas, caipirinha e champagne...









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